Erosão na Praia da Armação, em Florianópolis, pode causar desastre natural na Lagoa do Peri

01/05/2011 14:45

Lagoa pode ser contaminada com água salgada em até três meses

25 mai 2010

Ângela Bastos | angela.bastos@diario.com.br

A erosão extrema na Praia da Armação, em Florianópolis, pode causar um desastre natural sem precedentes na Lagoa do Peri, maior manancial de água doce da Ilha de Santa Catarina.

A lagoa, que é responsável pelo abastecimento de cerca de 113 mil habitantes, poderá ter suas águas salgadas se além da construção do muro (enrocamento) não for feito o engordamento da faixa de areia em cerca de 150 metros e a reabertura do canal existente entre a Ilha das Campanhas e o molhe, que também deve ser removido.

A conclusão faz parte de um parecer técnico elaborado pelo geógrafo Alexandre Felix, mestrando em Geologia Marinha e Geomorfologia Costeira da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, e pelo geógrafo José Maurício de Camargo.

Veja os riscos de salinização

O Diário Catarinense teve acesso ao documento, que será protocolado nesta sexta-feira, na Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram) pelos técnicos da Ambiens Consultoria Ambiental.

A empresa faz parte do grupo de trabalho do Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro (Gerco), que trata do Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro em Santa Catarina.

Pelo estudo, a salinização da Lagoa do Peri podem ocorrer dentro de um prazo preocupante:

— Calculo entre dois e três meses para que isso ocorra se as ações não forem feitas. Além disso, o pico está por vir, em agosto.

Se confirmada, a salinização pode acontecer de três formas: contato da cunha salina com o canal do Rio Quincas Antônio e sangradouro da Lagoa do Peri (perigo iminente); entrada da cunha salina do aquífero diretamente, na Lagoa do Peri, e o rompimento da barreira formada pela restinga.

— Estas obras emergenciais são medidas paliativas que darão um tempo maior para a definição de medidas adequadas a serem aplicadas para resolver os problemas relacionados aos riscos inerentes à erosão extrema na Praia da Armação — observa Felix.

Molhe pode ter ajudado na erosão

De acordo com a Companhia de Águas e Saneamento de Santa Catarina (Casan), no estudo Sistema de Abastecimento de Água da Ilha de Santa Catarina – Mananciais da Ilha, o abastecimento de água nos distritos da Barra da Lagoa, Lagoa da Conceição, Campeche, Morro das Pedras, Armação e Ribeirão da Ilha é realizado pelo Sistema Costa Leste/Sul, através de barragem e Estação de Tratamento de Água (ETA) localizada na Lagoa do Peri.

Se a água da lagoa salgar, haverá interrupção deste serviço aos milhares de moradores da região.

Os pesquisadores observam que além das recorrentes ressacas, o fechamento do canal existente entre a Ilha das Campanhas e a linha de costa, na divisa entre as praias da Armação e do Matadeiro, pode ser considerado como uma das prováveis causas para o estado de desequilíbrio que vem causando a erosão extrema na praia da Armação.

O molhe ali construído serve de armadilha de sedimentos, bloqueando todo o aporte direto de material proveniente da desembocadura do Rio Quincas Antônio e sangradouro da Lagoa do Peri para a praia da Armação.

— Os eventos constantes e recorrentes de ressaca, a partir do mês de abril, são apenas o gatilho para o cenário atual de erosão extrema — diz Felix.

O governo federal liberou R$ 12 milhões para obras emergenciais de recuperação na Praia da Armação. O enrocamento — colocação de pedras por 1.750 metros – começou na quinta-feira.

A obra deve ser executada em 90 dias. O dinheiro precisa ser usado para as medidas de contenção, e não para os imóveis atingidos pelas constantes ressaca.

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default.jsp?uf=2&section=Geral&newsID=a2918992.htm