Erosão na Praia da Armação, em Florianópolis, pode causar desastre natural na Lagoa do Peri
Lagoa pode ser contaminada com água salgada em até três meses
25 mai 2010
Ângela Bastos | angela.bastos@diario.com.br
A erosão extrema na Praia da Armação, em Florianópolis, pode causar um desastre natural sem precedentes na Lagoa do Peri, maior manancial de água doce da Ilha de Santa Catarina.
A lagoa, que é responsável pelo abastecimento de cerca de 113 mil habitantes, poderá ter suas águas salgadas se além da construção do muro (enrocamento) não for feito o engordamento da faixa de areia em cerca de 150 metros e a reabertura do canal existente entre a Ilha das Campanhas e o molhe, que também deve ser removido.
A conclusão faz parte de um parecer técnico elaborado pelo geógrafo Alexandre Felix, mestrando em Geologia Marinha e Geomorfologia Costeira da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, e pelo geógrafo José Maurício de Camargo.
O Diário Catarinense teve acesso ao documento, que será protocolado nesta sexta-feira, na Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram) pelos técnicos da Ambiens Consultoria Ambiental.
A empresa faz parte do grupo de trabalho do Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro (Gerco), que trata do Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro em Santa Catarina.
Pelo estudo, a salinização da Lagoa do Peri podem ocorrer dentro de um prazo preocupante:
— Calculo entre dois e três meses para que isso ocorra se as ações não forem feitas. Além disso, o pico está por vir, em agosto.
Se confirmada, a salinização pode acontecer de três formas: contato da cunha salina com o canal do Rio Quincas Antônio e sangradouro da Lagoa do Peri (perigo iminente); entrada da cunha salina do aquífero diretamente, na Lagoa do Peri, e o rompimento da barreira formada pela restinga.
— Estas obras emergenciais são medidas paliativas que darão um tempo maior para a definição de medidas adequadas a serem aplicadas para resolver os problemas relacionados aos riscos inerentes à erosão extrema na Praia da Armação — observa Felix.
Molhe pode ter ajudado na erosão
De acordo com a Companhia de Águas e Saneamento de Santa Catarina (Casan), no estudo Sistema de Abastecimento de Água da Ilha de Santa Catarina – Mananciais da Ilha, o abastecimento de água nos distritos da Barra da Lagoa, Lagoa da Conceição, Campeche, Morro das Pedras, Armação e Ribeirão da Ilha é realizado pelo Sistema Costa Leste/Sul, através de barragem e Estação de Tratamento de Água (ETA) localizada na Lagoa do Peri.
Se a água da lagoa salgar, haverá interrupção deste serviço aos milhares de moradores da região.
Os pesquisadores observam que além das recorrentes ressacas, o fechamento do canal existente entre a Ilha das Campanhas e a linha de costa, na divisa entre as praias da Armação e do Matadeiro, pode ser considerado como uma das prováveis causas para o estado de desequilíbrio que vem causando a erosão extrema na praia da Armação.
O molhe ali construído serve de armadilha de sedimentos, bloqueando todo o aporte direto de material proveniente da desembocadura do Rio Quincas Antônio e sangradouro da Lagoa do Peri para a praia da Armação.
— Os eventos constantes e recorrentes de ressaca, a partir do mês de abril, são apenas o gatilho para o cenário atual de erosão extrema — diz Felix.
O governo federal liberou R$ 12 milhões para obras emergenciais de recuperação na Praia da Armação. O enrocamento — colocação de pedras por 1.750 metros – começou na quinta-feira.
A obra deve ser executada em 90 dias. O dinheiro precisa ser usado para as medidas de contenção, e não para os imóveis atingidos pelas constantes ressaca.
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default.jsp?uf=2§ion=Geral&newsID=a2918992.htm